domingo, 11 de abril de 2010

AS AVENTURAS DO MISTERIOSO HANS STADEN NAS ALDEIAS TUPINAMBÁ

Primeiramente,

Qual é a importância em se estudar as viagens de aventureiros estrangeiros na América Portuguesa?

Os diários de viagens constitui um precioso material de informações de interesse histórico, antropológico e linguístico, dentre outras ciências do conhecimento humano, os quais trazem a descrição da natureza e dos animais presentes nas terras do território que hoje denominamos de Brasil, além da descrição sobre a vida, os costumes e as crenças dos povos indígenas e das comunidades africanas que habitavam estas terras no período colonial.

A origem do nosso personagem, o viajante Hans Staden, ainda é algo misterioso para os estudiosos do assunto, apontando na maioria dos casos para a cidade de Bremem em 1525, na região da atual Alemanha. No entanto, o que é mais importante é a sua formação religiosa no período das chamadas Reformas Protestantes que teve origem nas regiões circunvizinhas de sua cidade natal, influenciando seus comportamentos e suas visões de mundo ao longo de sua vida.

Visando o interesse no lucrativo comércio das especiarias com as Índias Orientais, Staden desembarcou em 1547 em Lisboa, sendo empregado como artilheiro naval em um navio que rumava para a Terra do Brasil.

Desembarcando nas capitanias de Pernambuco e de Itamaracá, Hans Staden relatou em sua obra "Duas Viagens ao Brasil" os constantes conflitos entre portugueses e os indígenas Kaeté, e sua participação nas guerras e na exploração do pau-brasil. Os costumes do povo Kaeté foram narradas nesta obra, embora sobrecarregada de estereótipos, com destaque para o espírito de coletividade dos grupos presente nas danças e nos rituais, sempre representados de forma circular.

Em 1550, o aventureiro, depois de retornar para Portugual e engarjar-se em outra expedição, desembarcou em São Vicente, onde, após provocar conflitos com o povo Tupinambá, tornou-se prisioneiro deste grupo. Desde este momento, o viajante vivia momentos agonizantes devido a interpretação do ritual de antropofagia como práticas de "crueldade" e "violência", narrado em várias passagens de sua obra, tendo que lutar contra os portugueses e tupinambás, seus antigos "aliados", para se livrar da morte. Recorrendo aos franceses, inimigos acirrados dos portugueses no comércio do pau-brasil, Hans Staden foi resgatado da prisão e embarcou em uma nau de volta para a Europa.

No entanto, devemos analisar a visão dos povos indígenas sobre a prática da antropofagia, a qual seria a incorporação dos valores de guerreiro do inimigo feito prisioneiro na guerra. A relação de alteridade entre o "eu" e o "outro" esteve presente nestes momentos, a partir do ponto em que o "eu" só existe, e define a sua identidade, de acordo com a diferença da cultura do "outro". A incorporação dos valores deste "outro", possibilita a ressignificação dos próprios valores de um determinado grupo, encontrando identidade na diferença.

E o Hans Staden? Será considerado um traidor para os portugueses? Afinal, desde o início, o nosso viajante esteve a serviço de quem?


FILME: HANS STADEN. Produção de Luiz Alberto Pereira. 1999. (92min).
Atenção: Para maiores de 18 anos!

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:
STADEN, Hans. Duas viagens ao Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988.
FRANÇA, Jean Marcel Carvalho; RAMINELLI, Ronald. Andanças pelo Brasil Colonial: catálogo comentado (1503-1808). São Paulo: Editora UNESP, 2009.

Um comentário:

  1. A escrita da obra "Duas viagens ao Brasil" só foi realizada após o retorno do viajante definitivamente para a Europa, na qual está presente as ansiedades, emoções e experiencias vivenciadas nos contatos interétnicos com os povos indígenas habitantes da chamada Terra do Brasil.

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